2 de jan. de 2011

Vulnerabilidade social facilita a exploração sexual

Vulnerabilidade social facilita a exploração sexual
 
Dados mostram que redes criminosas usam empresas de fachada para realizar o tráfico de pessoas
Por Letícia Veloso

No mundo antigo a prostituição de crianças representava um ritual de transição para a puberdade. As prostitutas, no Egito, eram agraciadas com presentes e reverências, como se fossem deusas. Já na Idade Média a prática foi proibida e considerada pecaminosa. Entretanto, na época centenas de meninas foram vítimas de casamentos forçados e, em alguns casos, submetidas a situações de abuso sexual.
Atualmente a exploração sexual facilita as atividades das quadrilhas internacionais especializadas em tráfico de humanos. “As redes de organizações criminosas beneficiam-se da situação de vulnerabilidade social de mulheres, crianças e adolescentes aprimorando e profissionalizando suas formas de exploração, o que faz do tráfico de pessoas um dos principais problemas do cenário internacional”, afirma Daniela Alves, analista de relações internacionais e colaboradora do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI).

Para Alves há "entraves e impunidade" no combate à exploração sexual comercial. "O que tem sido observado é que as altas hierarquias das organizações criminosas não recebem as sanções correspondentes e, em muitos casos, obtém tratamento muito favorável. Consequentemente, as normas são percebidas como inválidas e ineficazes para o normal desenvolvimento social", ressalta.

A analista informou que dados da Pesquisa sobre Tráfico de Crianças e Adolescentes (PESTRAF) de 2002 revelam a existência de redes que usam a fachada de companhias (lícitas e ilícitas) e dão suporte à exploração sexual e ao tráfico de pessoas. “Trata-se de empresas do setor de turismo (agências de viagem, spa e resorts), entretenimento, moda, indústria cultural, agências de serviços (clínicas de massagens e acompanhantes), dentre outros mercados que facilitam a prática do tráfico para fins de exploração sexual", finaliza.
Infância roubada

A capixaba J.M.S, 19 anos, vendedora, é um dos exemplos de jovens vítimas de abuso e exploração sexual dentro de casa. “Quando tinha 12 anos meu padrasto começou a me abusar. Ele me agredia de todas as formas, batia muito na minha mãe, sempre estava bêbado e drogado. Depois de um tempo a minha mãe se revoltou e foi embora, não deu notícias e me deixou sozinha com o carrasco”, revela.

A jovem afirma que se prostituiu e era obrigada a repassar o dinheiro para o padrasto. “Estava sempre com fome e ele disse que se eu fosse obediente poderia comer o que quisesse. Eu tinha tanto medo, que só me senti livre quando o meu padrasto sumiu pelo mundo. Na época, ele soube que os bandidos da vizinhança queriam acertar dívidas de drogas", diz.

Atualmente J.M.S trabalha em um shopping de Vitória (ES), faz planos para cursar uma faculdade, está casada e afirma que se salvou por milagre. “Eu não tinha chance, foram dois anos de angústia. Quando me libertei pedi abrigo em uma creche e por sorte me ajudaram. Quantas tiveram a mesma chance? Eu agradeço por ter conseguido, por ter conhecido um bom homem que me respeita”, desabafa.