16 de nov. de 2010

Feminicídio na América Central

Feminicídio na América Central é agravado pela falta de ação das autoridades

 

 

Denunciado por organizações de defesa dos direitos humanos, o expressivo aumento do número de assassinatos intencionais e violentos de mulheres na América Central parece ser ignorado pelas autoridades dos países onde mais casos são registrado, como Guatemala, Honduras e Nicarágua.

De acordo com a pesquisa “Não esquecemos, nem aceitamos: Genocídio de mulheres na América Central”, realizada pelo Commca (Conselho de Ministérios da Mulher Centro Americanas), em conjunto com o Cefemina (Centro Feminista de Informação e Ação) e o Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), a falta de investigação cria um sub-registro nos dados oficiais sobre os feminicídios na região centro-americana.

Giorgio Trucchi/Opera Mundi

Nicaraguenses portam cartaz com os dizeres:
"Meu corpo! Minha vida! Meus direitos! Eu decido! 
Um basta aos assassinatos de mulheres"

“Encontramos muitos problemas quanto aos dados. Os países não coletam informações corretas; as investigações carecem de qualidade”, contou ao
Opera Mundi Ana Carcedo, coordenadora da pesquisa e diretora do Cefemina. Segundo ela, isto se deve à falta de interesse na investigação e de pessoal especializado. 

“Não podemos nos conformar que continuem a matar as mulheres. Temos que exigir justiça, porque não vamos aceitar que a morte seja o único destino das mulheres. Também não podemos esquecer”, afirmou Carcedo.


“Não vamos apenas contar as mulheres assassinadas, e sim, por meio da lembrança delas, trazê-las à vida. São mulheres reais, concretas, irmãs de todas nós. Cada vez que machucam uma mulher temos que nos levantar e gritar: ‘Não aceitamos!’”.


A diretora do Cefemina pediu unidade: “precisamos nos unir para interromper esse drama, porque de outra forma nada irá acontecer”, concluiu.


Honduras


Honduras figura entre os países com os mais altos índices de genocídios femininos, fato que se agravou com o golpe de estado de junho de 2009, que destitui o presidente Manuel Zelaya e deu lugar ao governo ilegítimo de Roberto Micheletti.


“Os dados que temos sobre Honduras mostram que o golpe de Estado foi um forte fator para o aumento da violência contra as mulheres. Em 2009, a taxa de feminicídios alcançou o número de 12 mulheres assassinadas por 100 mil cidadãs, uma das mais altas da região”, demonstrou Carcedo.


Outros fatores evidenciam a relação entre a violência contra as mulheres e o golpe de Estado, de acordo com a pesquisadora. “Aumentaram as denúncias de repressão sexual contra mulheres jovens e casos de perseguição e estupro de garotas e mulheres por membros da polícia. Muitas delas fazem parte de organizações que se opuseram ao golpe de Estado”, como a FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular).


Conforme explicou Carcedo, as instâncias que haviam sido criadas para investigar e prevenir a violência contra as mulheres foram desarticuladas depois do golpe.


Nicarágua


Em seus relatórios anuais, a RMCV (Rede de Mulheres contra a Violência), localizada no norte da Nicarágua, contabilizou 54 casos de genocídios femininos em 2007 e 79 em 2008 e 2009 (o que contabiliza um aumento de 68%). Em 2010, entre as 26 mulheres assassinadas, quatro eram meninas com menos de seis anos.

Giorgio Trucchi/Opera Mundi

Fátima Millon, do RMCV: "lentidão da Justiça tem como consequência o feminicídio"

Segundo Klemen Altamirando Carcache, coordenadora da RMCV, nos últimos quatro anos houve 275 genocídios femininos, 61% contra jovens e mulheres com idades entre 11 e 30 anos na Nicarágua. “Diante desse panorama de violência e violação dos direitos humanos, vemos uma falta de empenho das autoridades em investigar. Temos muitos casos de impunidade e lentidão da justiça. Temos leis para frear esse fenômeno, mas o problema é que elas não são cumpridas”, disse Altamirano.


Fátima Millon, outra ativista da RMCV, afirmou que as autoridades judiciais priorizam outros delitos e não dão agilidade para os casos de genocídios femininos, abusos sexuais e outras violências contra as mulheres. “Nós, mulheres, estamos morrendo e o Estado tem que nos garantir condições especiais, diferentes dos casos de violência em geral, relacionados à segurança cidadã”.


Para ela, “a lentidão da Justiça tem como consequência” o feminicídio. “O clima de impunidade é avassalador e a violência segue crescendo. Por isso é necessária a união entre as mulheres e as famílias das vítimas, para exigirem justiça e colocarem o Estado diante de suas responsabilidades e sua cumplicidade nesse drama”, conclui.
Retornar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário