1 de fev. de 2011

'A Maria da Penha me transformou num monstro'



Quem é, como vive e o que pensa Marco Antonio Heredia Viveros, o homem que foi condenado por tentar matar Maria da Penha Maia Fernandes, a brasileira que deu nome à lei que combate a violência contra a mulher no país. Quase 28 anos após o crime, ele fala pela primeira vez à repórter Solange Azevedo. Em Natal (RN), "durante as nove horas de entrevistas – somadas a uma sessão de fotos e a uma extensa troca de e-mails – ele tenta se mostrar cortês e inofensivo. Pensa em cada frase. Quando foge do script e escorrega nas palavras, respira demoradamente e sorri. Me chama de 'meu anjo' e 'querida amiga'. 'Não sou o que as pessoas pensam', afirma. 'A Maria da Penha me transformou num monstro. Não tentei matá-la. O único erro que cometi foi ter sido infiel. Por isso, ela armou toda essa farsa. Essa mulher é um demônio.'"


Perguntado se sente raiva de Maria da Penha, Heredia reage: "Não é raiva. É objetividade. É verdade. Sinto pena dela. Se eu sinto pena, não posso sentir raiva."

"À medida que Maria da Penha foi crescendo, ganhando espaço na mídia, sendo homenageada como um exemplo de luta, simbolicamente, Heredia foi ficando cada vez menor. Mais cruel, mais perverso."

"Como se tivesse encarnado uma espécie de Joseph K., o personagem de 'O Processo', a obra-prima de Kafka, Heredia afirma ter sido jogado na prisão por um crime que não cometeu. Nega ter simulado um assalto e tentado executar Maria da Penha enquanto ela dormia. Nega tê-la mantido em cárcere privado. Nega ter maltratado e batido nas filhas. “Ele sempre vai negar. Sempre fez isso, mesmo quando caía em contradições”, afirmou Maria da Penha, na semana passada, à IstoÉ. 'Mas contra fatos não há argumentos. Foi um crime hediondo e tudo acabou devidamente comprovado na Justiça'."

"Na trama descrita pelo colombiano, Maria da Penha é a vilã. Ela teria ludibriado a polícia, o Ministério Público, os tribunais brasileiros, organizações de direitos humanos nacionais e estrangeiras, os meios de comunicação e convencido testemunhas a mentir. 'Denegrir a minha imagem como pai, marido e ser humano seria a forma mais fácil de Maria da Penha me atribuir um crime hediondo', afirma Heredia. 'Todo mundo acha que a Maria da Penha é uma coitadinha porque está numa cadeira de rodas. O Brasil precisa de uma outra fada madrinha. Essa lei nasceu manchada.' Heredia diz que o País se deixou envolver porque o povo brasileiro é 'muito emotivo' e sentiu 'compaixão por uma paraplégica'. 'Emotivo', aliás, foi o adjetivo usado por um dos auxiliares do líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad para se referir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando o petista ofereceu asilo a Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento."

Nos 16 meses em que esteve na prisão, Heredia leu livros de direito e procuro possíveis lacunas e contradições em seu processo. "Ele reuniu tudo nos livros 'A Verdade não Contada no Caso Maria da Penha' e 'Extermínio de Homens'. Em outubro de 2010, os lançou através do www.clubedeautores.com.br, site que comercializa obras sob demanda, de escritores independentes."

"Heredia afirma que não lê nem assiste ao que é veiculado sobre Maria da Penha. Quando a ex-mulher surge na tevê, ele muda de canal. 'Não quero mais ver satanás. Já estive no inferno', diz."

"Heredia fica impaciente quando sua versão sobre o crime é posta em xeque. 'Se eu for responder tudo o que a Maria da Penha fala, vamos ficar aqui a noite toda."

"Diante de perguntas incômodas, ele tergiversa e, às vezes, escorrega. Justifica ter comprado outro revólver depois do crime para deixar com o vigia recém-contratado: 'A minha arma tinha sido roubada pelos bandidos. Me autolesionaram... me lesionaram e a levaram'.

"Heredia vive solitário, enfurnado em 12 metros quadrados de um quarto de pensão, na periferia de Natal. Mantém pouquíssimos contatos com os vizinhos. Apenas a dona da hospedaria sabe quem ele é. (...) Sem trabalho nem renda fixa, nos últimos quatro anos, Heredia tem se virado como pode. (...) No dia a dia de Heredia uma coisa é certa: o tédio. 'Não tenho o que fazer. Às vezes, tiro as roupas do armário, sacudo tudo e guardo de novo. Olho no relógio e o tempo não passou', conta."

Acesse a reportagem completa em pdf: 'A Maria da Penha me transformou num monstro'[Geledês]

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